Os impactos positivos da atividade física na saúde neurológica e mental

Os impactos positivos da atividade física na saúde neurológica e mental
Os impactos positivos da atividade física na saúde neurológica e mental

Que a atividade física traz benefícios generalizados à saúde – desde que, logicamente, praticada com método, carga e frequência adequados às necessidades e capacidades de cada indivíduo – não é fato novo para ninguém, mesmo entre o “grande público”.

No entanto, os impactos cada vez mais estudados e conhecidos da atividade física sobre a saúde mental e também sobre a saúde neurológica, do ponto de vista físico, merecem nosso destaque, dado não só nosso tema de interesse – a Neurologia – mas também o relativo desconhecimento do público leigo a respeito desses benefícios.

Assim, nossa intenção é fazer um sobrevoo sobre tais benefícios, tanto de um ponto de vista mais geral, como também algumas estatísticas que se referem a impactos mais específicos – e não completamente conhecidos.

Saúde cardiovascular e AVC

Entre os impactos positivos mais óbvios da atividade física está aquele na saúde cardiovascular do indivíduo. Por exemplo, é ampliada a capacidade respiratória, a vascularização, o tônus muscular do coração e se reduz o colesterol.

Alguns desses fatores relacionados impactam diretamente no risco de acidente vascular cerebral (AVC), simplesmente a principal causa de morte no nosso país, segundo dados veiculados pela Agência Brasil.

A prevenção ao AVC passa quase que necessariamente pela atividade física: a redução do colesterol, das placas de gordura arterial, a vascularização e maior oxigenação do sangue provocadas pelo exercício físico reduzem significativamente o risco de AVC, tendo, portanto, um impacto óbvio na saúde neurológica do indivíduo.

Além da prevenção, a atividade física é importante na saúde de pacientes de AVC também em sua recuperação. Segundo Baldin (2009), “a intervenção do exercício físico pode ser realizada na fase aguda, subaguda e crônica do AVC”, sendo que “o fortalecimento muscular (…) ajuda na estabilidade articular, força muscular e resistência, melhorando a postura, a deambulação e as demais atividades da vida diária”.

Depressão e ansiedade

Entre as mais graves doenças da contemporaneidade, a depressão e os transtornos de ansiedade têm números alarmantes em todo o mundo, com o Brasil, infelizmente, liderando algumas estatísticas negativas.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) estima que o Brasil seja o país do mundo com maior prevalência de transtornos de ansiedade, atingindo mais de 9% da população, e o país com maior prevalência de depressão na América Latina.

Tanto em relação à ansiedade quanto à depressão, as atividades físicas são aliadas vitais do tratamento, ainda que usadas como mero complemento. Segundo Costa (2007), em caso de depressão moderada-grave ou grave e severa, “a atividade física serviria de complemento; no plano clínico, é opinião atual que a atividade física produz efeitos emotivos benéficos em quaisquer idades e sexos”.

O efeito positivo da atividade física tem diferentes hipóteses quanto à sua atuação. Ainda segundo Costa (2007), uma hipótese “sugere que a atividade física desencadearia uma secreção de endorfinas capaz de provocar um estado de euforia natural”; outra prevê que “o exercício físico regularia a neurotransmissão da noradrenalina e da serotonina”.

Seja como for, o fato é que a atividade física tem evidente influência positiva sobre o humor de quem a pratica, levando a uma maior sensação de bem-estar e aliviando naturalmente a ansiedade, bem como alguns sintomas da depressão.

Desempenho e cognição

As funções cognitivas e o desempenho do cérebro de maneira geral também são afetados pela atividade física. Os exercícios físicos aumentam o fluxo sanguíneo e a oxigenação do cérebro, proporcionando ganhos de aprendizagem. O aumento na liberação de neurotransmissores provocado pelos exercícios também pode contribuir no desempenho cerebral.

A prática regular de atividades físicas estimula o funcionamento da neuroplasticidade cerebral e cria novas conexões neurais, melhorando a memória e o raciocínio. Existem estudos que investigam até mesmo a eventual alteração da estrutura física do cérebro por conta dos exercícios.

Entre pessoas idosas, a atividade física também demonstra seus benefícios sobre desempenho cerebral e cognição. Uma pesquisa da USP feita com 45 pessoas atendidas pela rede básica de saúde, todas entre 60 e 65 anos de idade, demonstrou que os fisicamente ativos apresentaram maior volume cerebral – característica considerada positiva quanto a efeitos cognitivos – comparados aos sedentários.

Das 71 áreas cerebrais analisadas, 48 apresentaram diferenças significativas no volume intracraniano, com vantagem para os idosos que praticaram pelo menos 150 minutos semanais de atividade física em comparação aos demais. Só no lobo frontal do cérebro a diferença de volume percebida foi de 8%, em média.

O impacto dos exercícios físicos em idosos se revela também em situações específicas como as da Doença de Alzheimer (DA). Segundo Coelho et al. (2009), numa análise de oito estudos sobre o tema, seis deles demonstraram efeitos positivos da atividade física sistematizada na cognição de idosos com DA.

Funções executivas, atenção e linguagem foram os domínios cognitivos nos quais mais se observou melhora ou atenuação do declínio. Embora a análise não tenha conseguido estabelecer um protocolo de recomendações acerca do tipo e da intensidade da atividade física a ser realizada, o estudo revela que “a prática regular de atividade física sistematizada parece contribuir para a preservação ou mesmo melhora das funções cognitivas” em idosos com DA.

Em suma, os benefícios da atividade física sobre a mente – num sentido subjetivo – e sobre o cérebro, fisicamente falando, são comprovadamente amplos e podem abranger diferentes grupos sociais, etários e até mesmo grupos de pacientes com diversas doenças.

REFERÊNCIAS DO TEXTO

 Coelho et al., 2009

https://www.scielo.br/j/rbp/a/5VfyTMKmNVnkYFRjqkpbKyS/#

Médico pela Universidade Federal da Bahia; Neurologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP-SP); Especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento pela USP-SP e Preceptor da Residência de Neurologia da USP em 2022

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