Neurologia e cegueira: uma relação extensa

Neurologia e cegueira: uma relação extensa
Neurologia e cegueira: uma relação extensa

Em todo o mundo, deficientes visuais, especialmente cegos, enfrentam uma série de dificuldades na manutenção de vidas saudáveis e funcionais. Desde a exigência de maior respeito e acessibilidade à população cega quanto à necessidade de prevenção da cegueira, que pode ser consequência de diversos outros problemas de saúde.

A Neurologia, certamente, tem uma relação muito estreita com possíveis causas de cegueira — afinal, o olho é uma extensão do Sistema Nervoso Central (SNC). Assim, problemas em diferentes áreas do cérebro podem prejudicar a visão.

Hoje, vamos conhecer um pouco mais das diversas relações entre problemas neurológicos e comprometimento da visão, especialmente a cegueira propriamente dita.

Comprometimento da visão

Existem diversas condições neurológicas que provocam, se não cegueira propriamente dita, um comprometimento da visão, que pode ter graus variados e ser temporário ou permanente.

Parkinson e Alzheimer, por exemplo, causam degeneração de neurônios, e há também acometimento da retina. Esse fato faz com que essas doenças causem impactos na visão, provocando seu comprometimento — embora não costume chegar ao ponto de cegueira.

Essa degeneração que Parkinson e Alzheimer provocam na retina inclusive está entre as inúmeras pesquisas como forma viável de diagnóstico precoce desses males, visto que se acredita que essas alterações visuais precedam o quadro cognitivo.

Além disso, a enxaqueca, que é uma doença extremamente comum em todo o mundo, também é conhecida por provocar alterações na visão devido à inflamação das meninges e possível deslocamento de retina. Os problemas vão desde a aura (zigue-zague colorido no campo de visão) até a cegueira propriamente dita — embora, neste caso, temporária (na grande maioria das vezes).

Cegueira por causas neurológicas

Cegueira cortical

Quando um caso de cegueira é causado por alterações em alguma área do cérebro — quando, portanto, o problema não é no olho ou no nervo óptico em si —, dá-se o nome de deficiência visual cortical, ou simplesmente DVC.

Embora a existência de uma DVC não signifique necessariamente cegueira (nesse caso, dizemos que se trata de cegueira cortical total), deficiências visuais corticais estão entre as grandes causas de cegueira.

A principal causa de DVC é o acidente vascular cerebral (AVC). Isso porque o AVC provoca falta de oxigenação em determinadas áreas do cérebro, o que pode comprometer parcial ou totalmente uma série de funções do órgão — inclusive aquelas relacionadas à visão (a depender de qual região do cérebro é afetada). Assim, o comprometimento visual é uma consequência não apenas possível, como comum do AVC, e de muitas outras doenças neurológicas.

Além do AVC, uma série de outras condições pode provocar cegueira, como adenomas de hipófise (tipo de tumor benigno na hipófise, também chamada de glândula pituitária) e tromboses (que também prejudicam a oxigenação dos tecidos).

Cegueira por neuropatias ópticas

Também temos a cegueira provocada por danos no nervo óptico, sem o qual o cérebro não consegue receber os estímulos percebidos pelo olho. Diversos problemas, com diferentes causas, podem acometer o nervo óptico. São alguns deles:

  • Neuropatia óptica isquêmica: quando a circulação sanguínea diminui, provocando a morte de células do nervo óptico por falta de oxigênio, comprometendo-o;
  • Neurite óptica autoimune: afecçãomais presente entre jovens, que ocorre quando os próprios anticorpos do paciente prejudicam o nervo óptico, causando sua inflamação;
  • Neurite óptica infecciosa: também uma inflamação no nervo óptico que compromete a visão, porém causada por infecções;
  • Neuropatia óptica por deficiência nutricional: por exemplo, por deficiência em vitaminas do complexo B;
  • Neuropatia óptica induzida por medicamentos como etambutol, isoniazida, amiodarona e infliximabe, dentre outros diversos medicamentos.

Dentre as causas para essas neuropatias ópticas estão: esclerose múltipla, sarcoidose, doenças do colágeno e doença de Lyme.

Independentemente de qual seja o problema, a investigação das causas é necessária e normalmente passa por ressonância magnética de crânio e órbitas, coleta do líquor cefalorraquidiano através da punção lombar e tomografia de coerência óptica (OCT).

É claro que o acompanhamento especializado por um neurologista e oftalmologista são fundamentais na investigação e tratamento de problemas como os que trouxemos neste texto. Para além da simples investigação das causas, muitas das condições aqui descritas têm tratamento.

Portanto, quando o assunto são alterações na visão e cegueira, investigar as possíveis causas neurológicas o quanto antes é necessário. Cuide-se!

Fontes: Wilhelm e Schabet (2015); Cardoso, Zacharias e Monteiro (2006); Hospital Albert Einstein; The Washington Post.

Médico pela Universidade Federal da Bahia; Neurologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP-SP); Especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento pela USP-SP e Preceptor da Residência de Neurologia da USP em 2022

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